Luís Fernando Linhares ao lado de Garrincha.
CidadeDESTAQUES

Amizade entre Juarez Távora e Altivo rendeu frutos em Miracema e região

Para derrubar a República Velha (1889 a 1930), os tenentes promoveram, em 1922, diversas revoltas, incluindo a do Forte de Copacabana, quando 18 deles saíram pela Avenida Atlântica, naquele bairro carioca e foram fuzilados alguns e feridos, outros. Um deles, Eduardo Gomes, fugiu e se refugiou em Campos.

A partir de 1924, os tenentes se uniram em torno de Luís Carlos Prestes (Rio Grande do Sul) e Miguel Costa (São Paulo) e iniciaram o que foi denominado “Guerra de Movimento”, na tentativa de politizar o povo do interior do país e vencer as forças legalistas. Em 1927, a Coluna, sem nenhuma derrota, mas sem chance alguma de vencer as forças do governo, se desfaz. Prestes vai com o que restou de seus homens para a Bolívia. Depois, Argentina, quando estuda o marxismo e torna-se comunista.

Juarez Távora era um dos principais homens da Coluna e, quando da Revolução de 1930, quando Prestes se negou a compor com Getúlio Vargas, por considera-lo burguês, Juarez Távora, ao contrário, ficou com os revolucionários. Perseguido, vai para Campos, onde foi preso. Fugiu e foi para Miracema, sendo acolhido, na Fazenda Boa Vista, por Altivo Linhares, um dos mais fortes políticos do que seria, a partir de 1988, o Noroeste Fluminense.

Altivo Mendes Linhares.

Altivo Linhares era um dos conspiradores em prol da Revolução e já abrigava, em sua fazenda, outros revoltosos. Era o chefe político do Noroeste do Estado. Juarez pernoitou na fazenda e no dia seguinte foi para Palma, cidade mineira que faz divisa com Miracema (na época, distrito de Pádua) e, em seguida, para Juiz de Fora. Depois, clandestinamente e com ajuda da amigos, foi para Buenos Aires, Argentina.

A revolução de 1930 foi tramada em Minas por Virgílio de Melo Franco no Rio Grande do Sul por Getúlio Vargas, que foi eleito era Senador, eleito por vários Estados (na época, era permitido), a aliança visava derrubar a chamada “República Café com Leite” (uma união política e econômica entre paulistas e mineiros para governar o país). Vitoriosa a Revolução, uma junta assume o poder e, logo depois, Vargas é indicado para presidir o país. Começa o que a história registra como “a ditadura Vargas”, quando, em verdade, Vargas só implanta uma ditadura em 1937, após anular a Constituição (que em nada se diferenciava da que vigorava na República Velha) e aprovar a de 1937, esta sim, autoritária e que durou até a sua deposição em 1945 e a elaboração de uma outra, em 1946.

Pois bem, Juarez Távora, em Buenos Aires, escreveu um livro que foi editado por um amigo, clandestinamente, com um exemplar enviado para Altivo Linhares, com os autógrafos de todos os Tenentes que lá se encontravam. Vencida a Revolução, Altivo foi nomeado interventor de Pádua com plenos poderes e mão de ferro. O homem que tinha um caráter autoritário, iniciou, assim, a sua carreira política, chegando a ser interventor de Niterói e Senador da República, assumindo a cadeira do campista José Carlos Pereira Pinto, de quem era suplente.

No auge da carreira, já no período da ditadura civil/militar implantada em 1964, tentou derrubar Jamil Cardoso e foi barrado pela Câmara Municipal, presidida por Francisco Freitas, mas conseguiu nomear o filho, Luiz Fernando Linhares, engenheiro do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ).

Empossado, Luiz Fernando fez um curso de pavimentação de estradas, foi para São Fidelis e depois Itaperuna, o mais poderoso DER do norte do Estado, com muitas patrolas. “Quem tem uma Patrol na mão é um homem poderoso, me dizia”. Pela primeira vez o DER asfaltou a estrada de Itaperuna a Natividade. Quis ingressar na Arena (a ditadura acabou com os partidos e impôs a Aliança Renovadora Nacional – Arena -, que abrigava os governistas e o Movimento Democrático Brasileiro – MDB – mas foi barrado. o Altivismo já estava no seu ocaso, depois de trinta anos de poder.

Altivo Linhares foi ao Rio e lá se encontrou com Juarez Távora e Filinto Muller, que, como presidente da Arena, abonou a sua ficha. Juarez ainda ajudou Altivo, enviando uma tropa federal para fiscalizar um pleito eleitoral em Miracema. Com isso, Luiz Fernando, seu filho, se elegeu deputado pelos municípios do norte do Estado.  Tudo isso foi possível pela amizade de Altivo que abrigou Juarez Távora, num momento crítico. Com o aval de Filinto Muller, o todo poderoso e temido chefe de Polícia de Vargas.

Luiz Fernando inicia, então, a sua fugaz e efêmera carreira. Na ocasião, 1981, estava em marcha seu plano de ser vice-governador do governo do Estado no pleito de 1982. Por isso tentou ser diretor ou presidente do Botafogo (vide foto com Garrincha) para ficar conhecido na Guanabara. Tinha 42 anos, foi o mais votado na região e o quinto no Estado, além de ser eleito líder na Alerj. Queria ser candidato a vice e sonhava em ser governador do Estado aos 50 anos. Mas o acidente de carro ceifou seus planos e sua vida. Nascido em 14 de fevereiro de 1939, morreu a 05 de março de 1981.

Para registro histórico: Filinto era da Coluna Prestes e foi expulso por este, que o acusou de corrupção, o que gerou ódio mortal do descendente de alemão, que fez de tudo para prender o líder comunista, em 1935 e, ainda, envidou esforços para mandar a mulher de Prestes, Olga Benário, judia, para os nazistas de Hitler, que a assassinaram numa câmara de gás em 1943.

*MAURICIO MONTEIRO

Biógrafo de Altivo Linhares