CidadeDESTAQUES

ROBERTO ALVIM TOSTES

“Viver é perder amigos”

Carlos Drummond de Andrade

 Em uma sala humilde, estava armada duas cadeiras e ao lado, vizinhos faziam o velório de Edilberto Tostes, falecido prematuramente naqueles idos de 1932, quando não havia Hospital no distrito de Miracema, muitas receitas eram ainda aviadas; nos fundos a filhada ainda não sabia o que era a morte. A viúva aflita estava sem rumo, como criar seis ou sete filhos no distrito que não oferecia empregos, ainda predominava a lavoura cafeeira. Roberto, de apenas 04 anos, foi entregue ao casal Dona Filhinha e José Saraquino que residiam na fazenda Serra Nova. E lá foi Roberto para a bela fazenda, toda cercada de bambuzal.

Se teve o infortúnio de perder o pai na mais tenra idade, foi compensado pela companhia do casal Saraquino, ficaram amigos para o resto da vida; fez amizade com os filhos do Dr. Renato, exibiu a bela Sílvia nos passeios pela cidade, como também da recatada e exuberante Juju, e assim ele ia aumentando o seu círculo de amizades, sempre com aquele sorriso jovial. Eu o conheci mais tarde, já rapaz, ele chegava a cavalo nas tardes de sábado, via o desfile das moças do internato pela rua Direita, de duas em duas, sob a vigilância da regente Regina Dutra, às vezes via o cineminha do José de Assis e nas tardes de domingo o futebol entre o Tupan e o Esportivo.

Roberto, não era um craque, mas tinha intimidade com a bola, gostava de participar de um “racha” e pensava em se tornar um jogador de futebol; com o casamento da irmã com Inácio Pires de Silveira, mudou-se definitivamente para Miracema entregando gás. Depois empregou-se num posto de gasolina, que foi vendido, mas tinha que ficar. As nossas estradas eram de chão batido e nos finais de semana já estava ele entregando os carros, tornou-se popular e querido pela freguesia, sempre atencioso e prestativo. Depois se fixou, definitivamente no Expresso Predileto, a grande firma criada.

O seu conceito de homem sério, responsável e prestativo cresceu na cidade; foi convidado para ingressar no Rotary Club e todas as missões que lhe eram dadas ele cumpria religiosamente. Foi um rotariano exemplar, discreto. A seguir foi convidado para ser Secretário de Transportes, no governo de Carlos Roberto, e não ficou por muito tempo, o Expresso Predileto dava um trabalhão para ele, sempre conciliador. Tinha uma Kombi de entregas, mas nos finais de semana vivia emprestada.

EM PÉ: Antônio Eder, Luiz Fernando Linhares, Miguel Ângelo e Maurício Monteiro. AGACHADOS: Brito, Homerinho, Roberto do Expresso e Márcio Tabuleta. ACERVO: Dr. Maurício Monteiro.

Tinha um círculo de amizades extenso, Dona Julieta Bastos tinha uma afeição enorme para com ele, e outros mais. Finalmente ingressou na Maçonaria e deve ter sido um maçom exemplar. Sinto que o espaço está ficando estreito e a morte de Roberto foi mais um golpe que sofri, pelo seu espírito de solidariedade, de amizade. Mesmo chegando à idade serôdia, quando já tinha direito ao ócio, ele mudou-se com a família para Macaé e nunca abandonou nossa cidade. Todo fim de semana ele estava aqui; durante o dia nem era bom procurá-lo: estava almoçando com o Dr. Wagner Perkles ou com o Carlos Roberto Medeiros, amigos fraternais. Ultimamente ele lutava contra a doença insidiosa, mas com sacrifício visitava a sua Miracema. Em Macaé, o seu tino administrativo dobrou o número de caminhões.

Miracema perde um grande homem. O seu lema era fazer o bem e não olhar a quem. Roberto do Expresso,  faleceu no dia 07 de maio, aos 87 anos.

Por Dr. Maurício Duarte Monteiro, advogado e historiador.